FESTIVAL RESCALDO DE 07 A 10 FEVEREIRO 2024

O Rescaldo está de volta para mais uma edição. O festival que é, desde 2007, um dos espaços privilegiados para celebrar a vitalidade e pluralidade da música aventureira nacional. Dando especial destaque a nomes e projectos que continuam a impulsionar os limites da música e a explorar novos territórios sónicos.

Fiel à sua identidade, o Rescaldo traz consigo nomes históricos que continuam a deixar a sua marca única e absolutamente contemporânea, bem como criadores da nova geração em pleno desenvolvimento das suas carreiras, valores emergentes de diversos espectros sonoros, miscigenações inimaginadas e colaborações únicas, especialmente concebidas para o festival.

O Rescaldo é, como sempre foi, um espaço para outras formas de pensar e ouvir.

 


SMUP 07 FEV. 24


TRiSTE

Auto-denominado “espaço colectivo de confusão”, TRiSTE procura acerto simbiótico entre dimensões sonoras e visuais, num plano de narrativa difusa e onírica que faz dessa auto-consciente “confusão” a sua manobra de acção. Daí, surge uma linhagem onde referências à IDM, à hiper-realidade e ao ambientalismo como revisto à luz de Future Sound of London ou The Orb se refractam num movimento mutável, que tanto escapa como se entrega a impulsos mais rítmicos, numa busca constante por identidade que é processo e resultado em si mesma.

 

Mariana – electrónicas

⇒ 21h30 / Sotão

BEN YOSEI

Das entidades mais honestas a surgir neste país em bastante tempo, ben yosei cria uma música desarmante na sua concepção e entrega, que o próprio assume – e nós concordamos – como sendo devocional. Naquilo que este termo tem de mais puro. Após ter lançado ‘luz’ em 2020, num tratado de gratidão iluminado que revelava, desde logo, uma natureza beatífica em tudo isto, ressurgiu no ano transacto com o maravilhoso ‘Lagrimento’. Álbum amplamente mais disseminado do que o anterior, levou o altar de ben yosei a palco por diversas vezes, e foi alvo de deslumbramento em muitas mentes. Disco de crença e fé, procura arrepiar caminho à perda, através de uma música etérea, onde loops luminosos e gravações de campo tecem loas ao canto despojado e revelador de yosei.

Ben Yosei – electrónicas, voz

⇒ 22h30 / Sotão
 

ZDB 08 FEV. 24


LANTANA

Conjura invocada por Anna Piosik, Carla Santana, Helena Espvall, Joana Guerra, Maria do Mar e Maria Radich, cuja presença no meio possível da música improvisada neste país tem sido notória, não só pela infeliz e parca ausência feminina dentro desse meandro, como também pela encantatória música que fazem nascer nas suas, pouco frequentes, aparições e no muito recomendável ‘Elemental’, lançado pela Cipsela em 2022. Improvisações que irrompem de uma forma muito orgânica, profundamente ligadas à natureza e aos seus desígnios mais insondáveis, num conluio de violino, violoncelo, trompete, voz e electrónicas magicado por figuras já com uma presença bem firmada e sempre pertinente nos mais diversos caminhos da música feita por cá: da canção esotérica ao jazz mais libertador, da experimentação mais abstracta à hipnose do drone. Tudo coordenadas que se vão enredando nesta vivência colectiva.

Joana Guerra – violoncelo / Helena Espvall – violoncelo / Carla Santana – electrónicas / Maria do Mar – violino / Anna Piosik – trompete, voz / Maria Radich – voz

⇒ 22h00 / Aquário

CATARATA

Congregação de actividade algo esparsa ao longo de meia década formada por André Tasso, Bruno Humberto e João Ferro Martins. Três artistas cuja presença, em diversas formas, nos elos de ligação entre a música, teatro, cinema ou a instalação tem sido recorrente e sempre válida, com um afinado sentido de exploração sonora e visual. Fazendo jus ao nome escolhido, dado o “volume contínuo que se despenha de certa altura por disposição do tempo” que caracteriza uma catarata, este trio recolhe-se e expande-se continuamente num caudal de fontes de som – guitarra, rádios, electrónica, percussão – que confluem em improvisações pacientes e hipnóticas. Nesse movimento, de progressão incerta mas actuante, vão adoptando técnicas do ambient, noise ou música concreta num mesmo plano contemplativo e pleno de mistério.

João Ferro Martins – bateria, electrónicas, voz / Bruno Humberto – electrónicas, voz / André Tasso  – guitarra e electrónicas

⇒ 23h00 / Aquário

 


UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA (CAMPUS CAMPOLIDE) 09 FEV. 24


FOLCLORE IMPRESSIONISTA

Colectivo projectado em 2016 por João Paulo Daniel em cumplicidade com António Caramelo e Sérgio Silva, Folclore Impressionista opera em torno de uma ideia de desvanecimento – da memória, da paisagem, daquilo que se encontra oculto além do visível – muito ligada ao conceito de “eerieness” como projectado por Mark Fisher. Com dois álbuns – ‘A New Sensation: Music for Television’ e ‘Idea of Nature’ – lançados na sua Russian Library e um número de peças espalhadas por entre compilações, 7″ e cassete, têm sido dos mais ávidos cultivadores da “hauntology”, como postulada por Simon Reynolds, neste terreno, arquitetando uma música e devida correspondência visual informada pela library music, kösmiche, folk horror o design soviético e utopias working-class, num tempo-espaço escapista em que passado e futuro se confundem.

João Paulo Daniel / António Caramelo / Sérgio Silva – electrónicas, imagem

⇒ 21h30 / Auditório da Reitoria da UNL

TÓ TRIPS

Senhor de uma presença substancial mas nunca impositiva na movida musical deste país, Tó Trips amealha já praticamente quatro décadas de labuta à guitarra, num caso raro de resiliência e constante reinvenção. Com passagem pelos míticos Santa Maria, Gasolina em Teu Ventre e formação dos Lulu Blind, na década de 90, e dos Dead Combo já no início deste século, ao lado do saudoso Pedro Gonçalves, Tó Trips tem-nos deixado um espólio respeitável, que tem sido continuado a solo com uma paciência abençoada. Tendo lançado o seu terceiro álbum em nome próprio no ano transacto – ‘Popular Jaguar’ pela Revolve -, mediado pela formação do Club Makumba e da criação da banda sonora para ‘Surdina’ de Rodrigo Areias, oito anos após ‘Guitarra Makaka – Danças a um Deus Desconhecido’, Trips reafirma a sua linguagem quase intuitiva ao instrumento, capaz de abarcar diversas histórias e latitudes que vão da memória do mestre Paredes às paisagens de Ry Cooder, dos espaços de Ennio Morricone à ginga de Marc Ribot, a esta Lisboa que vai desaparecendo.

Tó Trips – guitarras

⇒ 22h30 / Auditório da Reitoria da UNL

TBA 10 FEV. 24


SOFIA BORGES + MARTA WARELIS

Encontro pleno de sentido entre estas duas artistas cujo ofício em torno da improvisação e da composição tem sido continuamente reconhecido e reconhecível. Sofia Borges é uma percussionista sediada em Berlim que tem desbravado uma prática exploratória em torno da percussão, da bateria a instrumentos orquestrais, a criações próprias e ao cruzamento destas com gravações de campo e ao seu processamento analógico e digital. Trabalhando regularmente no domínio da dança e teatro, com artistas como Meg Suart, e desenvolvendo colaborações com Ignaz Schick ou Axel Dörner, tem trilhado um fascinante percurso solitário do qual invocou ‘Trips & Findings’ em 2022. Marta Warelis tem traçado um percurso análogo ao piano. Sediada em Amsterdão, por lá tem sido uma figura atuante na fértil cena holandesa, colaborando com músicos como Onno Govaerts ou John Dikeman. Absorvendo lições do jazz, da música contemporânea e da improvisação não-idiomática, Warelis toma o instrumento na sua totalidade, com uma noção narrativa muito apurada e plena de lirismo

Sofia Borges – percussão, electrónicas / Marta Warelis – piano

⇒ 19h00

LULA PENA / ANTONIO POPPE / CARLOS SANTOS

Encontro inédito entre estas três figuras, na procura de um espaço e tempo comuns para uma ação que se prevê tão surpreendente quanto perfeitamente idealizada. Lula Pena é uma das mais enigmáticas presenças da canção feita em Portugal, senhora de uma obra que se tem revelado a um tempo muito seu. Com uma discografia parca mas preciosa, Lula Pena constrói à voz e guitarra uma música que evocando o fado, cruza essa tradição com outras linguagens como tango ou bossa nova transcendendo delimitações de género. Artista visual, poeta e performer, António Poppe tem vindo a erigir um trabalho onde estas práticas se interseccionam e influenciam mutuamente. Tendo editado já quatro livros e exposto amplamente o seu trabalho visual, tempos recentes viram-no a colaborar com a La Família Gitana em “Música Cigana Camões Yanomami / A Soma de Todxs”. Carlos Santos é um minucioso artista sonoro cujo trabalho abrange a electroacústica, gravações de campo e o processamento eletrónico em tempo real numa prática que vai da instalação, à composição para dança, ao ensino ou à improvisação livre.

Lula Pena – voz, guitarra / António Poppe – voz, objectos / Carlos Santos – electrónicas

⇒ 20h00