2016.

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SEX. 19 FEVEREIRO / 21h30 / Pequeno Auditório da Culturgest

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FILIPE FELIZARDO

Filipe Felizardo – guitarra eléctrica

Quando, em 2012, lançou “Guitar Soli for the Moa and the Frog”, pela Shhpuma, já se intuia que Filipe Felizardo caminhava para uma voz única num panorama internacional repleto de guitarristas mais ou menos atreitos à revisitação das raízes e fundações dos blues e do que se convencionou chamar “american primitivism”. Quatro anos depois, interpretamos já esse disco como 1º volume de uma série de lançamentos (que culminou no passado Novembro, com a edição de “Volume IV – The Invading past and other dissolutions”, segunda pela franco-suiça Three:Four Records) que instítuiram, definitivamente e sem margem para quaisquer dúvidas, a música deste lisboeta como profundamente idiossincrática, inconfundível, e, sobretudo, bela – como só a conjunção de um lirismo intensamente pessoal, a fusão de uma guitarra e seu tocador, e o papel de um amplificador cujo som parece só existir nas mãos de Felizardo, pode ser.

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OZO

Paulo Mesquita  – piano preparado / Pedro Oliveira – bateria preparada

“A kind of Zo”, estreia do duo de Paulo Mesquita e Pedro Oliveira na Shhpuma (2015), é um feliz encontro de proveniências díspares, em que o piano e a formação clássica do primeiro e o background do segundo enquanto baterista dos rockeiros Peixe:Avião geram um objecto que traz à memória os mais marcantes discos dos norte-americanos Rachel’s, fundadores de um género até hoje quase sem seguidores, e que poderíamos designar por “chamber post-rock”. Há nos Ozo, no entanto, qualquer coisa mais que essa capacidade de criar quase-canções de narrativa e harmonia irrepreensíveis, qualquer coisa que obedece a uma vontade muito particular de não deixar portas por abrir nem em seguir até ao fim o caminho que parece desbravado, qualquer coisa que, pela sua evidente paixão pela expressividade electro-acústica, os leva para recantos e desvios que tornam o seu experimentalismo numa verdadeira experiência.

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SAB. 20 FEVEREIRO / 21h30 / Pequeno Auditório da Culturgest

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TIMESPINE

Adriana Sá – Zither, electrónicas / John Klima – baixo eléctrico / Tó Trips – Dobro, percussão

A música do trio Timespine (Tó Trips, Adriana Sá e John Klima), toda ela criada a partir de cordas (dobro, zither e guitarra-baixo, respectivamente) parece conter em si todas as músicas originárias do mundo que se sustentam neste tipo de instrumentos. No seu disco de estreia, prestes a ser actualizado por um aguardado segundo lançamento, confluem pistas que remetem para a tradição hindustani, para a kora oeste-africana, para o koto japonês e, claro, para a tradição de seis cordas do sul norte-americano. Uma música de simplicidade desarmante, de entrega total a uma procura pela beleza improvisada a partir de notações gráficas, e de possessão tranquila de um segredo íntimo e de um entendimento quasi-místico da música enquanto tradução do próprio solo e matéria do mundo.

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NORBERTO LOBO

Norberto Lobo – guitarras

De Norberto Lobo já praticamente tudo se escreveu; guitarrista prodigioso e verdadeiro milagre surgido nas fileiras da grande vaga de música exploratória lisboeta na primeira década do milénio, voz única e verdadeiro património da música mundial (sem qualquer tipo de exagero), autor e instrumentista de talento verdadeiramente raro e abençoado. Tudo se escreveu, então, mas a cada disco, a cada concerto, se suspeita que nem tudo se ouviu: a voz continua a murmurar histórias e a tocar sentimentos que não sabemos acessíveis sem esta mediação, a guitarra continua a transfigurar-se em instrumento desconhecido, em melodias e sons que não sabemos acessíveis senão pela mão de Norberto Lobo; as narrativas continuam a parecer conhecidas até que percebemos que nunca as seguimos exactamente assim, e o caminho do músico lisboeta cresce e cresce rumo ao infinito. Um concerto de onde nunca saímos iguais.

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QUI. 25 FEVEREIRO / 22h00 / ZDB (GALERIA ZÉ DOS BOIS)

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ACID ACID

Tiago Castro  – guitarra e sintetizadores

Projecto emergente do radialista Tiago Castro, há muito ligado à música na sua facção de melómano e divulgador, que decidiu, em 2014, passar para o palco um amor confesso pelo psicadelismo e pelos ensinamentos sonoros das décadas de 60 e 70 tal como delas se lembra toda uma geração que não as viveu na pele.

Com um percurso que conta já com presenças em festivais como o Mucho Flow ou o Reverence Valada, a música de Acid Acid, criada a partir de uma guitarra, de um sintetizador e de samples criteriosamente escolhidos, cresce para um looping aparentemente infinito de camadas melódicas e de filigranas sónicas. Traços da facção mais planante do krautrock alemão são aqui uma referência incontornável, com a intuição fantasmática de um bucolismo electrónico e saturado que se persegue num jogo circular e que sempre oferece recompensa.

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PLUS ULTRA

Gon – voz / Kino – bateria   Azevedo –  guitarra

Autêntico super-grupo das franjas do rock a norte de Portugal, o trio de Gon (Zen), Kino (Ornatos Violeta) e Azevedo (Mosh) regressou, em 2015, ao mundo “dos vivos” com uma k7 editada pela emblemática Lovers & Lollypops, e concertos em festivais como o Milhões de Festa ou o Sonic Blast Moledo.

Com uma guitarra, uma bateria “e meia”, e uma voz que continua a ser das mais carismáticas e expressivas do rock nacional, os Plus Ultra tomam como seu um certo rock de facção sludge informado por um balanço funk de que só nos recordamos, apropriadamente, nos saudosos Zen, aparentando continuar, efectivamente, a trilhar um caminho que consistentemente nos vai oferecendo uma casta única de suor e intensidade incomparáveis.

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SEX. 26 FEVEREIRO / 21h30 / Garagem da Culturgest

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PAPAYA

Bráulio Amado – voz / Óscar Silva – guitarra / Ricardo Martins – bateria

“Um/I” é o nome álbum de estreia (2013) deste trio de pop inclassificável que é, também ele, uma espécie de super-grupo da cena indie nacional (com Ricardo Martins, ex-Lobster, na bateria, Óscar Silva, o senhor Jibóia, na guitarra, e Bráulio Amado, dos Adorno, na voz e baixo). Nele, testemunhamos canções hiperactivas – se é que tal designação possa ser utilizada – mas paradoxalmente curtas e incisivas, habitadas por uma estranheza que deriva de uma clara intenção de aproximar as latitudes pós-punk da banda com um certo ideal de tropicalismo que se pressente não tanto nos ritmos como em especificidades e cromatismos saídos das guitarras, com amplo recurso a efeitos e dobragens tonais.

Trazem na bagagem o segundo lançamento, de 2015, apropriadamente intitulado “Dois/II”, para esta edição do Rescaldo.

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BLACK BOMBAIM + PETER BROTZMANN

Ricardo Miranda – guitarra elétrica / Paulo Gonçalves – bateria / Tojo Rodrigues – baixo / Peter Brotzmann – saxofones

Poderíamos referir-nos a este encontro como uma “colaboração improvável”; afinal, e pese embora o estatuto galopante dos barcelenses Black Bombaim no circuito europeu e mundial da facção mais psicadélica e verdadeiramente espacial do rock instrumental, a verdade é que Peter Brötzmann, soprador violentíssimo e decano do jazz mais explosivo que o mundo já conheceu, é figura maior em qualquer palco que pise, seja com que companhia for. Improvável, é, de certa forma, ver o mestre alemão com estes três rapazes de talento incrível. Uma análise mais cuidada ao percurso dos Black Bombaim, no entanto, mostra-nos que a sua música tem, praticamente desde a sua génese, vindo a abrir-se a todo o tipo de colaborações e a convidados tão ilustres como Adolfo Luxúria Canibal, Noel V. Harmonson, Isaiah Mitchell ou, de forma mais relevante, os saxofones do recém-desaparecido Steve Mackay e do luso Rodrigo Amado, ele mesmo cada vez mais figura de proa do free-jazz internacional.

Este encontro então, talvez não tão improvável, afinal, como nos pareceria numa primeira abordagem, promete ser um passo mais neste percurso, como dissemos, galopante do trio luso, e uma ocasião mais para que, lado a lado com um titã da música – de qualquer música – a nível mundial, se supere e se volte a superar rumo às estrelas que a sua música sempre parece alcançar.

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SAB. 27 FEVEREIRO / 21h30 / Garagem da Culturgest

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HHY & THE MACUMBAS

João Filipe – bateria / Filipe Silva – maracas / Rui Leal – baixo /  Brendan Hemsworth – conga / Frankão – percussão / André Rocha – trompete / Álvaro Almeida – trompete / Jonathan Saldanha – eletrónicas

Os portuenses HHY & The Macumbas são, definitivamente, das mais originais e bizarras criações que já se puderam testemunhar em palco. Formados por uma verdadeira constelação de criatividade e inventividade com raízes já profundas na segunda cidade do país (como Jonathan Uliel Saldanha, Filipe Silva ou João Pais Filipe), são, mais que uma experiência de palco ou de estúdio, uma verdadeira celebração ritualista, uma sessão de voodoo de proveniência geográfica incerta e difusa, feita de uma feliz conjugação do digital e do profundamente orgânico.

A percussão, simples e de insistência quase febril, os sopros que surgem sempre num contexto inesperado e que transportam a música para uma dimensão dub alienígena, o aparato cénico, a evidente dimensão transcendentalista que imprimem às suas actuações e que, por exemplo, os levou já a agarrar e a surpreender uma sala cheia após um concerto dos The Fall (no OUT.FEST 2013, no Barreiro) – tudo, nestes HHY & The Macumbas, nos promete um concerto que não deixa nunca intacta qualquer expectativa que connosco transportemos.

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TREN GO! SOUND SYSTEM

Pedro Pestana  – guitarra eléctrica / Slide Jane – projeções

Há mais de meia década que o portuense Pedro Pestana vem provando, enquanto Tren Go Soundsystem, as contínuas possibilidades infinitas de uma guitarra. Não falamos, aqui, das potencialidades de expressão próprias do instrumento, ou de uma linguagem especificamente “guitarrística” mas sobretudo da capacidade de, a partir destas seis cordas, às quais tantas vezes tudo parece já ter sido espremido e descoberto, criar canções de orquestração completa – com percussão propulsiva, com texturas e camadas sónicas repletas de fuzz e de neblina psicadélica, com linhas de baixo serpenteantes, e, sobretudo, com princípio, com fim, e com um meio que, a partir da evidente paixão pelos blues, é feito de infinitas digressões cromáticas.

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GALA DROP

Afonso Simões – bateria / Nelson Gomes – sintetizadores / Jerrald James – voz e congas / Rui Damaso – baixo / Guilherme Canhão – guitarra eléctrica

Poucas bandas, a nível nacional e – arriscamos – internacional, conseguem criar um percurso, já com uma década, feito de tanta e tão constante reinvenção (os Animal Collective vêm à cabeça como um exemplo). Os lisboetas Gala Drop, nos quais Nélson Gomes permanece como figura tutelar desde o início, já foram um duo de explorações quase-ambient, um trio de explorações ritualísticas com forte enfase percussivo, que acabou por dar origem ao seu primeiro e celebrado disco homónimo (2008); já ensaiaram um EP (“Overcoat Heat”, de 2010), que é dos mais originais exercícios elaborados a partir de uma linguagem (chamemos-lhe “post rock”) que, à data, parecia e continua a parecer ter pouco de novo para oferecer; já lançaram um EP colaborativo (já enquanto quinteto) com o incrível guitarrista norte-americano Ben Chasny (“Broda”, de 2012), até que desaguaram na maravilhosa viagem que é “II”, o seu segundo longa-duração, de 2014, plenamente firmes e convictos enquanto banda de canções, sim, canções, finalmente deixando certo para o mundo que o ritmo, ele mesmo, sempre espreitou, desde o ínício, como força propulsiva do projecto, como elemento de construção de explorações inefáveis de experimentalismo sob múltiplos prismas, dos quais o elemento quase-pop, que agora ouvimos guiado pela carismática voz do norte-americano Jerry The Cat, parece ser um culminar lógico mas nunca previsto por aqueles que tiveram o privilégio de acompanhar esta década de evolução e constante mudança.

Os Gala Drop, hoje por hoje dos verdadeiros pontas-de-lança da mais aventureira e conseguida música a ser feita em Portugal, estreiam-se e encerram o Rescaldo num momento ímpar do seu percurso, num concerto absolutamente imperdível.

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