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Programa 2011

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QUI. 21 JANEIRO
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SEI MIGUEL UNIT CORE
Sei Miguel . trompete de bolso
Fala Mariam . trombone alto
César Burago . pequenas percusões

Já referido pela imprensa especializada europeia como o “segredo mais bem guardado” de Portugal, Sei Miguel viveu em 2009 mais um bom ano do seu já longo percurso, culminando numa excelente apresentação no Rendezvous de Setúbal. Em vésperas da edição de mais um disco, volta agora ao palco com o núcleo duro dos seus grupos, constituído com Fala Mariam e César Burago. Senhor de uma visão muito particular do jazz, inspirada em John Cage e numa grande variedade de músicas (dos clássicos – bastando reparar na adopção de formas como a suite e a fuga – à presente electrónica experimental – com as contribuições de Rafael Toral e João Castro Pinto –, passando pelo rock “arty” – a recente colaboração com Pedro Gomes, dos Caveira), o trompetista parece estar a ter, finalmente, o reconhecimento que lhe faltava. Estruturas elípticas, fragmentações de discurso, congregações e dispersamentos de energia: disto e mais se faz a música que vamos ouvir.

CARLOS SANTOS / EMÍDIO BUCHINHO / JOSÉ OLIVEIRA
Carlos Santos . laptop, microfones
Emídio Buchinho . guitarra, electrónicas
José Oliveira . percussão

Podem estes três músicos ser veteranos – todos com actividade desde os anos 80 – , mas na verdade continuam na linha da frente do que de verdadeiramente interessante vai acontecendo em Portugal nos domínios da electrónica e da improvisação. Com os Vitriol, Santos foi um desbravador de caminhos no âmbito da “laptop music”, mas vem marcando presença nas suas associações com Ernesto Rodrigues e nos projectos que promoveu com João Silva e com Buchinho, como “Departure” ou “A Vénus de Pistoletto”. Aplaudido, também, como designer e operador de som para audiovisiual e como pedagogo, este último vem marcando pontos como compositor de bandas sonoras e como guitarrista com ideias muito próprias. Oliveira, por sua vez, é o percussionista de eleição da frente nacional do chamado reducionismo, além de um prestigiado artista visual. Foram no ano que passou três dos mais marcantes criadores sonoros…

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SEX. 22 JANEIRO
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MOURARIA BEAT ENSEMBLE
Jorge Nunes . electrónicas
Vasco Albergaria . baixo, electrónicas

“Mouraria Beat Ensemble concilia a pop com a experimentação, num projecto em que conceito e improviso se conjugam como poucas vezes vamos testemunhando. Jorge Nunes e Vasco Albergaria surgem no estádio presente de uma linhagem que remonta a alguns seminais trabalhos de Vítor Rua. Vindos de grupos como New Connection e Coty Cream, estes dois moradores da Mouraria partilham um imaginário musical que não se deixa limitar por padrões estilísticos e por tipos de abordagem, um claro sinal de não-conformismo. Em 2009, MBE teve o seu ano zero como projecto residente no evento de arte urbana “LISBON SAFARI”– agora, segue-se o resto.

RODRIGO AMADO MOTION TRIO
Rodrigo Amado . saxofone tenor e baritono
Miguel Mira . violoncelo
Gabriel Ferrandini . bateria, percussão

Com um notável primeiro álbum saído em 2009, escolhido como um dos melhores do ano pela Redacção da revista jazz.pt, o Motion Trio de Rodrigo Amado elevou a bitola da qualidade bem alto. Entre as formações do saxofonista de Lisboa, esta é a que se aproxima mais das coordenadas da livre-improvisação de cunho europeu. Se a matriz free bop do estilo de Amado continua presente, bem como o seu gosto pelas construções melódicas, o certo é que com o presente trio entra mais afoitamente nos territórios da abstracção. Miguel Mira e Gabriel Ferrandini não se ficam pelo cumprimento das funções de uma convencional secção rítmica – o trabalho que desenvolvem com os saxofones do líder decorre de uma perspectiva colectivista e profundamente democrática, sem papéis fixos nem estreitas delimitações de espaço para a actuação de cada músico. Daí resulta uma música intensa e metamorfoseante a que ninguém consegue ficar indiferente…

WHIT
Nuno Moita . giradiscos
Pedro Lopes . giradiscos, electrónicas
Miguel Sá . giradiscos
Fernando Fadigas. giradiscos

A causa abraçada pelos Whit é o “turntablism”, nome dado ao DJing que aposta na criatividade musical. Os materiais sonoros disponibilizados pelos discos de vinil são subjugados por este quarteto de recicladores às agulhas e à interferência de objectos vários, bem como a técnicas que vão muito para além do habitual “scratch”. Nuno Moita é uma figura incontornável da electrónica nacional, enquanto músico envolvido nos mais diversos projectos, enquanto editor (Grain of Sound, Ristretto) e ainda enquanto produtor (Sonicscope, Mascavado). Pedro Lopes é um dos novos valores da cena portuguesa, membro do trio-revelação OTO. Miguel Sá tem já um longo trajecto nos domínios da “club music” e do experimentalismo electro, com formações como Tra$h Converters e Producers. Estes projectos partilha-os com o operador intermedia Fernando Fadigas, a que se acrescenta a edição discográfica com a Variz. No ano passado, os Whit brilharam no Festival Um.

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SÁB. 23 JANEIRO
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TIAGO SOUSA
Tiago Sousa . piano
Ricardo Ribeiro . clarinete

Conhecido até recentemente como o mentor da prestigiada “netlabel” portuguesa Merzbau, responsável pela revelação de grupos das franjas do rock como Lobster, B Fachada, Noiserv, Frango e Walter Benjamin, Tiago Sousa trocou esse investimento pela apresentação pública da sua própria música, com o álbum “Insónia” granjeando em 2009 um assinalável sucesso nos meios “indie”. Para surpresa de todos, bem diferente é da “noise music” e do neo-psicadelismo que antes promoveu aquilo que toca com o piano como seu principal instrumento: a referenciação de base está em compositores modernos e contemporâneos como Erik Satie, Olivier Messiaen e Terry Riley, a que junta o seu gosto pela “weird folk” de um Robbie Basho e pela improvisação livre. No seu caso pessoal, fechou-se uma janela para se abrir uma porta.

MÃOS SEM DEDOS
J.S . guitarra elétrica, processador de efeitosP.S . sintetizador, teclas, kazoo, harmónica
J.S . baixo, caixa de ritmos, samples, voz
Z.V . bateria, percussão, pau da chuva, efeitos vocais

Entre uma filiação no rock experimental de bandas como Gang Gang Dance, Wolf Eyes e Black Dice e a sonoridade “alien” de algum cinema de ficção científica, os setubalenses Mãos Sem Dedos foram uma das maiores surpresas de 2009 e prometem continuar essa investida no ano que agora começa. Com uma música muito fluida, misteriosa e exótica, os espectáculos do grupo caracterizam-se pela sua acentuada teatralidade (p. ex., os músicos tocam quase na escuridão com máscaras fosforescentes), mas também por prezarem acima de tudo a espontaneidade e a intuição criativa. A estética abraçada é a do retro-futurismo, numa antevisão do “day after” que tem tanto de noise como de lounge, mas sobretudo um vector improvisacional de “jam”, tal como se entendia nas décadas de 1960 e 70 e voltou a entender-se em anos recentes. “Rock escangalhado”, chamam os MSD ao que fazem…

TIAGO MORGADO
Tiago Morgado . viola de arco, laptop

Com formação clássica e início de actividade em orquestra e formações de música de câmara, depressa o violetista bracarense Tiago Morgado se virou para o experimentalismo. Neste âmbito, trabalhou com figuras do colectivo Soopa como Gustavo Costa, João Martins e Henrique Fernandes, mas também Nuno Reis e João Tavares, resultando na formação da célula Uncle Bart Comes to Have Breakfast, editada em 2008 na Test Tube. A “netlabel” por si fundada, XS Records, vem desde 2008 editando este e outros projectos seus, designadamente Necrostilet (juntamente com Marco Ramos – Minson) e DNP X-Citer. O seu propósito de “extender” as capacidades da viola d’arco levou-o a utilizar o laptop, tendo estudado as possibilidades abertas por esta abordagem com Anette Vande Gorne, Andre Bartetzki, Hans Timmermans e Pedro Rebelo, e Rui Penha, em regime de seminários, workshops, etc., encontrando-se de momento a frequentar o curso de música electrónica e produção musical na ESART – Escola Superior de Artes Aplicadas do IPCB, onde tem vindo a trabalhar sob a orientação de Rui Dias, Gustavo Costa, José Alberto Gomes, Mário Barreiros, entre outros. Os seus investimentos musicais vão desde a composição electroacústica erudita até à performance improvisada com referenciação no avant-jazz, no rock alternativo e na música electrónica de carácter exploratório. O melhor que tem para nos oferecer está para vir.

 

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